Ontem estive no evento de lançamento do
Grupo de Estudos Educar na Cultura Digital .O encontro foi excelente, como já era esperado, considerando o alto nível dos debatedores: Rodrigo Njem (
Safernet), Profa. Léa Fagundes (UFRGS) e Prof. André Lemos (UFBA).
Rodrigo Nejm contribuiu para a discussão com a questão da responsabilidade no ciberespaço, que na sua opinião antecede até mesmo as questões pedagógicas. Para ele, a responsabilidade deve começar no "primeiro clique".
André Lemos focou na caracterização da cibercultura, deixando pistas de como os educadores podem tirar proveito do potencial conversacional das atuais mídias digitais. Lemos resumiu a cibercultura como a "cultura da leitura e da escrita", em contraste com a cultura do
mass media onde a emissão era centralizada. É esse potencial de ler/escrever de forma ampla que, dentre outros aspectos, os educacores precisam incorporar a suas estratégias didáticas, que como apontou Léa Fagundes, não é a didática do currículo fechado, do "livro didático" ,do ensino, etc. O foco deve ser na aprendizagem, nas interações generalizadas entre alunos e docente. Léa insistiu na epistemologia genética piagetiana para justificar a abordagem da colaboração e da construção do conhecimento na sala de aula.
Lemos acredita que não é necessário ensinar "
para" a cultura digital, e teve o apoio do Prof. Nelson Pretto (UFBA) via twitter. André Lemos na verdade estava dizendo que a apropriação da técnica digital está banalizada no cotidiano (dos alunos). Outro twitteiro também abordou a questão do ensinar "
PARA" e "
NA" cultura digital. Na minha opinião, no caso da educação, o "na" e o "para" não são excludentes. Temos que ensinar "
para" e "
na" cultura digital. Podemos pensar que o "
para" estaria para a aproprição técnica e o "na" para a apropriação de uma pedagogia que dê conta dos processos complexos de ensino-aprendizagem na cultura digital . O que vemos na prática é que os docentes necessitam tanto desenvolver habilidades "
para" o uso das novas mídias quanto necessitam de aporte pedagógico que dê conta de ensinar "
na" cibercultura.
Lemos disse que o problema dos alunos é que eles não lêem, clicam aqui, ali e acolá, mas não querem ler os textos acadêmicos. Léa Fagundes mostra que possivel reverter esse quadro quando de fato focamos na educação dialógica, na interação e na colaboração, e deu exemplo de como a tecnologia na sala de aula pode de fato contribuir para a motivação e a pesquisa voluntária, ou seja, a didática que está sendo costurada (por Léa e outros) para a cultura digital não pode ser a didática da imposição, pois essa era coerente somente na lógica da distribuição, da emissão centralizada. Hoje, retornando a "cultura da leitura e da escrita" levantada por André Lemos, o que precisa ser atualizado na sala de aula, seja ela virtual ou não, é essa potência conversacional da nova mídia. Em vez de pensar num modelo didático com passos "a","b", "c", talvez seja mais importante ter como orientadores didáticos os princípios mesmos que regem a própria cibercultura.
Enfim, gostei bastante do evento e aprendi muito com todos.
Parabéns à turma do Educared e aos dabatedores.
Espero sinceramente que o grupo de estudos nos ajude a ensinar
"para" e "
na" cultura digital.